
Pé diabético: Conheça
Publicado: 21/06/2022
Atualizado: 27/06/2022
Publicado: 21/06/2022
Atualizado: 27/06/2022
Conteúdo
A diabetes é uma condição que afeta mais de 400 milhões de pessoas ao redor do mundo. Quando não tratada adequadamente, essa condição pode oferecer diversos riscos à saúde do paciente, incluindo o surgimento de problemas graves, como o chamado pé diabético.
A condição é muito frequente em decorrência de complicações nos quadros de Diabetes Mellitus. Continue a leitura deste artigo e saiba mais sobre as novas diretrizes para o tratamento do Pé diabético.
A diabetes mellitus, ou apenas DM, é uma condição causada pela total falta (Diabetes tipo I) ou incapacidade (Diabetes tipo II) da insulina presente no organismo para exercer sua função adequadamente. Produzida pelo pâncreas, essa proteína é responsável pela manutenção do metabolismo da glicose (açúcar)
Pacientes diabéticos apresentam maior dificuldade em metabolizar a glicose presente no organismo, com isso, apresenta altas taxas de açúcar no sangue, precisando passar por tratamentos específicos a fim de evitar o agravamento da síndrome metabólica e a evolução para outras condições que geram risco à saúde.
Pessoas que possuem Diabetes e não realizam o tratamento adequado da condição, ou seja, não possuem controle dos níveis de açúcar no sangue podem sofrer com lesões em diversas partes do corpo, chamados “lesões em órgãos alvo” como por exemplo:
Uma das consequências sofridas pelo paciente diabético mal controlado ao longo dos anos é a neuropatia diabética, condição na qual é desenvolvida a perda da sensibilidade das extremidades do corpo. Isso facilita o aparecimento de feridas principalmente na região dos pés.
Como o paciente passa a não sentir dor, ele não percebe e não protege a lesão, ocasionando o aumento da ferida. Além disso, pessoas com diabetes descontrolada tender a apresentar dificuldade no processo de cicatrização tornando mais fácil uma infecção no local afetado.
Os sintomas de pé diabético podem variar de pessoa para pessoa, no entanto, as queixas mais comuns da condição podem ser:
Para se ter uma ideia do tamanho do problema, estima-se que 34% dos pacientes com diabetes do tipo 1 ou 2 irão desenvolver úlceras nos pés em algum momento da vida.
As úlceras no pé diabético são a causa de ⅔ das amputações não traumáticas nos Estados Unidos.
O meio de tratamento para o pé diabético vai depender do estado e gravidade da doença, sendo necessária uma análise completa por um médico de sua confiança.
O tratamento do pé diabético é multiprofissional no qual todos os profissionais envolvidos precisam estar de mãos dadas muito cientes da importância do papel de cada um no sucesso terapêutico:
O primeiro passo no tratamento das úlceras do pé diabético é avaliar, graduar e classificar a úlcera para determinar a natureza e intensidade do tratamento
A classificação é baseada em:
Avalia:
Se divide em :
Essa classificação foi baseada apenas na avaliação clínica.
Avalia:
Se divide em Graus:
A descompensação da diabetes é a base fisiopatológica do pé diabético
Por outro lado, qualquer infecção é capaz de descompensar a diabetes mesmos daqueles pacientes bem controlados.
Um adequado controle da glicemia feito por um bom endocrinologista, nutricionista e até mesmo um psicólogo e psiquiatra é fundamental
Tanto para a correção dos picos glicêmicos durante o tratamento da infecção quanto para um ajuste do tratamento pós cura da infecção
Logo no início do tratamento deve-se avaliar se existe indicação de limpeza cirúrgica imediata, geralmente feita pelo cirurgião vascular ou mesmo ortopedista.
Seja devido ao acometimento ósseo (osteomielite), ou apenas desbridamento da ferida.
Quando a limpeza cirúrgica está indicada é uma excelente oportunidade de coleta de material para culturas para determinação do agente causal e guia do tratamento antibiótico
Após esta limpeza cirúrgica quando necessária, o acompanhamento próximo de um estomaterapeuta (profissional especialista em cuidados de feridas) é fundamental.
No caso de feridas profundas em que há acometimento ósseo, é fundamental que a feria permaneça tampada, mesmo quando não há condições de fechamento de pele.
Nestes casos os curativos à vácuo são os mais indicados pois além de manter a área limpa e protegida, também estimula a granulação da ferida – facilitando sua cicatrização
Ao longo do tratamento, abordagens para limpezas cirúrgicas e desbridamento podem ser necessários sem significar falha do tratamento.
O laser tem uma ação fantástica na estimulação da granulação e cicatrização de feridas.
Geralmente feito pelo próprio estomaterapeuta que avalia diariamente a indicação de cada sessão
Estes 2 conceitos são fundamentais para não se administrar longos tratamentos antibióticos sem indicação pois esta prática apenas aumenta custo, toxicidade, induz mutações de resistência e seleciona bactérias multirresistentes deixando a pessoa colonizada por este tipo de bactérias.
A avaliação da úlcera não infectada é dinâmica pois enquanto não ocorre a total cicatrização, existe uma enorme porta de entrada favorecendo a infecção da ferida por bactérias de pele a qualquer momento
O acompanhamento do médico infectologista desde o início e durante todo o processo é muito importante. Ele irá definir não apenas a indicação do tratamento antibiótico e o melhor esquema, como a melhor via (endovenosa durante todo o tempo ou se poderá passar para via oral em algum momento da terapêutica) e o tempo adequado de tratamento.
O tratamento iniciado deve ser sempre de amplo espectro, levando em consideração todas as possíveis bactérias que podem causar este tipo de infecção neste tipo de paciente.
O Histórico recente do uso de antibióticos, de internação hospitalar ou mesmo uso de Home care pode influenciar na escolha do esquema de antibióticos
A função renal do paciente, alterações de função do fígado, passado de cirurgia bariátricas, tamanho, idade do paciente e gravidade da infecção são fatores que podem influenciar na via de administração e dose da medicação
Profundidade da infecção e resposta terapêutica, assim como necessidade de novas abordagem de limpeza são fatores que influenciam diretamente no tempo de tratamento.
Ter o agente etiológico isolado, é muito bom, mas não a todo custo, amostras não coletadas de forma correta podem prejudicar o tratamento confundindo a escolha terapêutica.
Coletas realizadas por swab na ferida, por exemplo, evidenciam apenas os microrganismos que estão colonizando o paciente e não necessariamente o agente causador da infecção
Amostras coletadas durante o uso de antibióticos ou mesmo pouco tempo após sua suspensão, possuem uma grande probabilidade de apresentaram falso negativo, não isolando nenhum agente mesmo que coletado da forma correta ou mesmo que a bactéria seja resistente ao antibiótico em questão.
Por isso que coleta de amostras para culturas não pode ser usada como forma de acompanhamento de resposta clínica.
Oxigenoterapia hiperbárica ou câmara hiperbárica é um tratamento feito por sessões geralmente de 2 horas na qual o paciente entra numa câmara fechada para respirar oxigênio puro (100%) a uma pressão 2 a 3 vezes maior que a pressão atmosférica ao nível do mar.
A frequência e quantidade de sessões necessárias serão avaliadas caso a caso conforme a resposta terapêutica.
Esta terapêutica causa várias alterações no nível tecidual e vascular que ajuda tanto na cicatrização de feridas quanto no combate à infecção.
No entanto, esta modalidade vem a somar às demais estratégias terapêuticas e nunca deve ser utilizada de forma isolada para o tratamento de infecções.
Neuromodulação é um procedimento cirúrgico feito pelo neurocirurgião capaz de tratar uma série de distúrbios neurológicos
Existem uma infinidade de procedimentos de neuromodulação e de indicações para as quais geram enorme benefício.
Para o tratamento do pé diabético utiliza-se a estimulação medular
Este procedimento modula o controle autonômico dos membros inferiores, aumentando a circulação.
Dessa forma o antibiótico, que viaja através do sangue, chega em maior quantidade para matar as bactérias causadoras da infecção e o processo de cicatrização que também precisa do sangue para ocorrer torna-se mais efetivo.
Com a melhora da circulação o tecido fica mais vitalizado.
Além disso, a neuroestimulação medular trata a dor neuropática, muito comum nestes pacientes. A dor neuropática é um sinalizador do processo de morte das terminações nervosas.
Dependendo do local da ferida, o simples atrito com o sapato no momento da deambulação pode dificultar a cicatrização.
O profissional deve avaliar caso a caso buscando soluções que protejam a ferida e ao mesmo tempo consiga reduzir o impacto na qualidade de vida do paciente durante o tratamento. Produtos como botas imobilizadoras podem ser de grande ajuda nessa fase
Elaborada pela Sociedade de Cirurgia Vascular em colaboração com a Associação Médica Podóloga Americana e pela Sociedade de Medicina Vascular, as 5 diretivas no manejo do pé diabético. veja no link abaixo:
Não se trata apenas de ter a glicemia de jejum e a hemoglobina glicada em níveis bons
O tratamento deve ser direcionado a se evitar a qualquer custo os picos de glicemia
Isso só pode ser alcançado através de medicação e alimentação adequada.
Aqui uma vez mais o acompanhamento da endocrinologista, nutricionista ou mesmo o nutrólogo são fundamentais.
para pessoas com problemas de ansiedade, compulsão etc, o acompanhamento com psiquiatra e do psicólogo pode ser de grande ajuda
Pessoas com neuropatia diabética possuem uma ataxia sensitiva, ou seja ela sente pouco os pés, e com frequência usa uma pisada mais dura ao caminhar o que aumenta o risco de lesões.
Como a sensação de dor protetora está diminuída, se o sapato estiver machucando o pé, a pessoa não percebe o que pode ser causador ou perpetuador de feridas.
Evitar ao máximo usar sapatos:
Os sapatos precisam ser:
A termografia é um exame de imagem no qual uma câmera infravermelha sensível ao calor é usada para registrar o calor superficial produzido por diferentes partes do corpo.
O metabolismo anormal do tecido (para mais ou para menos) pode causar mudanças de temperatura, que podem ser vistas no exame
A associação do histórico do paciente com padrões dessas alterações podem auxiliar no diagnóstico de várias condições
No caso dos pacientes com diabetes mellitus, o exame de Termografia realizados de forma periódica (em tempos pre definidos) em pacientes diabéticos serve para:
É bastante comum nesses pacientes amputações parciais do pé para o tratamento de infecções ou isquemia (falta de circulação)
Isso associado à ataxia sensitiva mencionada acima aumenta lesão do músculo
Em pacientes obesos, doença também muito prevalente em pacientes diabéticos, o problema é ainda maior.
Baropodometria significa medida de pressão do pé. É um exame que identifica a pressão executada pelo pé ao tocar uma superfície.
O exame possui duas fases:
A Podoposturologia é a análise da influência da postura dos pés nas outras articulações.
Ela analisa, por exemplo, se o calcâneo valgo (calcanhar rodado para dentro) está influenciando a rotação interna dos joelhos e consequentemente, rotação do quadril e mesmo ombros.
Esta avaliação é realizada pelo fisioterapeuta que não apenas avalia as alterações da pisada e suas consequências em toda a postura do corpo que pode estar associada a quadros de desgastes articulares e dores crônicas como também elabora e executa uma série de atividades que ajudará no(a):
A avaliação de um bom ortopedista fora do período da infecção é fundamental.
Com exames de RX do pé com carga (pessoa em pé) é possível observar os pontos de lesão e programar uma cirurgia ortopédica de correção da pisada
Existem uma grande variedade de palmilhas que podem ser usadas, algumas até feitas sob encomenda que pode ajudar paciente com amputações parciais do pé a permanecer caminhando e com maior autonomia.
A atividade física é fundamental, e não apenas a parte aeróbica. É importante realizar atividade física aeróbica e muscular de forma rotineira.
Atividade física como caminhadas ou hidroginásticas, podem ser muito boas para relaxar e colocar a conversa em dia, mas não trazem todos os benefícios esperados.
Por outro lado, matricular-se numa academia, mesmo que seja com um personal trainer pode aumentar o risco de lesões para alguns paciente, somando problemas.
Daí surge o conceito de fisioterapia fitness.
É uma fisioterapia dinâmica, desenhada para cada momento do paciente, desde a reabilitação e destreza, passando por correções posturais e conscientização corporal até o momento do ganho de massa em si.
Para boa parte das pessoas, após a fase de reabilitação e conscientização postural, a pessoa já está apta para o retorno à uma atividade física regular em academia com supervisão (personal trainer), ou mesmo, seguir na própria Fisioterapia Fitness já na fase de ganho de massa muscular.
Esta fase funciona como um treino funcional feito em um ambiente mais controlado, seguro e individualizado.
Por todas as alterações neurológicas, circulatórios e ortopédicas os pacientes apresentam dor miofascial com grande frequência
A dor miofascial se apresenta em forma de dor crônica de localização e intensidade variada (podendo chegar a incapacidade funcional por dor) e acaba levando a outros problemas como tendinite, posturas viciosas de compensação que só aumentam o problema
Além disso, como são pacientes em sua grande maioria obesos e/ou idosos e que já possuem um certo de grau de artrose, nas mais de um profissional pouco capacitados no assunto, o diagnóstico das dores miofasciais referidas são facilmente totalmente ignoradas e diagnosticando quadros de artrose como causas dessas dores levando até mesmo à indicação errônea de cirurgias e colocação de prótese que longe de resolverem o problema, acaba causando inúmeros outros
Isso tudo leva não apenas a uma piora da qualidade vida, como também um redução na expectativa de vida.
A estimulação medular ajuda não apenas no tratamento da úlcera do pé diabético como também na prevenção de novas úlceras.
Ajuda inclusive na melhora das dores neuropáticas (formigamentos)
Fonte: