
Hepatite B: o que você precisa saber
Hepatite B é um problema de saúde no mundo, principalmente em países em desenvolvimento.
Mesmo tendo uma vacina bastante eficaz, estima-se que 1/3 da população mundial já foi infectado pelo vírus da hepatite B.
Hepatite B no mundo:

Modo de transmissão
A hepatite B é considerada uma Infecção Sexualmente Transmissível – IST, mas não é apenas pela relação sexual que ela se transmite.
- Relação sexual sem o uso adequado do preservativo (principal via de transmissão)
- De mãe para filho pela transmissão Vertical
- Aleitamento materno
- Compartilhamento de agulhas, seringas,
- Material de manicure e pedicure, lâminas de barbear e depilar,
- Colocação de Tatuagens, Piercings,
- Procedimentos odontológicos ou cirúrgicos com materiais não devidamente esterilizados.
Diagnóstico da Hepatite B
O Diagnóstico da hepatite B pode ser feito apenas por exames específicos.
Exames de rotina como hemograma se alteram apenas em fase aguda (transitoriamente) ou quando existem as complicações
O mesmo raciocínio serve para os sintomas. Não podemos esperar pelos sintomas para podermos solicitar exames específicos.
Existem vários testes no sangue para diagnóstico da hepatite B e cada um deles nos dá uma informação diferente.
- HBsAg = Antígeno de superfície da hepatite B
- HBeAg = Antígeno da Hepatite B
- Anti-HBc = Anticorpo core da Hepatite B (Anti HBc Tota, Anti HBc IgM, Anti HBc IgG)
- Anti-HBe = Anticorpo Hepatite B
- HBV-DNA = Teste Molecular para Hepatite B (Identifica a presença do material genético do vírus)
Fases da Infecção pela Hepatite B
O vírus da hepatite B tem uma grande atração pelas células do fígado.
- Fase Imunotolerante
- Fase Imunorreativa
- Estado de Portador Inativo
- Fase de Reativação
- Fase HBsAg Negativa (Não reagente)
Fase Imunotolerante
O sistema imune tenta combater a infecção.
Há elevada multiplicação do vírus no sangue mas não há evidencia de lesão ao fígado (enzimas hepáticas são pouco alteradas ou normais)
A progressão para fibrose é lenta.
Essa fase pode durar muitos anos, especialmente em pessoas com transmissão vertical (foram infectadas durante a gestação)
Como há maior quantidade de vírus no sangue, estas pessoas transmitem o vírus mais facilmente, mesmo sem ter sintomas e doença.
- Exames específicos: HBeAg (-), HBV-DNA (>20.000 UI/ml)
Fase Imunorreativa
O sistema imune não consegue mais combater o vírus
O nível de vírus no sangue começa a abaixar, as enzimas hepáticas são flutuantes
A evolução para a fibrose é acelerada
Essa fase pode durar de várias semanas a vários anos
- Exames específicos: HBeAg (+), HBV-DNA (<20.000 UI/ml)
Estado de Portador Inativo
Aqui, o sistema imune conseguiu reprimir a replicação viral.
Os níveis de vírus no sangue são muito baixos ou mesmo indetectáveis, enzimas hepáticas normais.
- Exames específicos: Anti-HBe (+), HBV-DNA (baixo ou indetectável)
Fase de Reativação
Os níveis de vírus no sangue voltam a aumentar. As enzimas hepáticas podem voltar a subir
Lesão hepática e evolução para a Fibrose persistem nessa fase.
- Exames específicos: HBV-DNA (alto)
Fase HBsAg Negativa (Não reagente)
Indivíduos com HBsAg negativos geralmente não possuem replicação viral ou ela está muito baixa.
Em pessoas com imunidade baixa, o HBsAg positivo, mesmo com anti-HBs positivo pode significar replicação viral e um acompanhamento deve ser feito de perto.
- Exames específicos: Anti-HBs (+) OU Anti-HBs (-), HBV-DNA (+)
Hepatite B aguda
Apenas 25% das pessoas infectadas apresentam algum sintoma de fase aguda.
Mesmo nas que apresentam sintomas, estes podem ser muito inespecíficos e se resolvem mesmo sem tratamento específico.
Os sintomas de fase aguda desaparecem, mesmo que o vírus ainda permaneça no organismo.
Sintomas da infecção aguda
Sintomas típicos:
- Colúria (urina escura)
- Acolia (fezes claras)
- Icterícia (pele e olhos amarelados)
Estes sinais e sintomas não são específicos da hepatite C. Na verdade, podem estar presentes em qualquer processo de lesão aguda intensa ao fígado.
Sintomas inespecíficos de hepatite aguda:
- Prurido (secundário à icterícia ou às lesões de pele)
- Mal estar geral
- Vômitos
- Diarreia
- Febre
- Rash (lesões vermelhas na pele)
Não ter sintomas não exclui o diagnóstico de hepatite aguda, mas na presença deles, o diagnóstico deve ser descartado.
Hepatite B crônica
São pessoas que permanecem com o vírus da hepatite B circulando no sangue após 6 meses do contato.
Risco de evolução para hepatite B crônica
Quanto menos desenvolvido o sistema imune, menor as chances de cura espontânea do vírus da hepatite B.
Entre os recém nascidos infectados, como aqueles que pegaram hepatite B de suas mães, 90% evoluem para a cronicidade.
Entre as crianças que se infectam entre 1 e 5 anos, de 30 a 50% evoluem para a cronicidade
Apenas 4% das pessoas imunocompetentes que se infectam na vida adulta evoluem para a hepatite B crônica.
Adultos com deficiência da imunidade ou coinfectados com outros infecções como Hepatite C ou HIV possuem maior risco de evolução para a cronicidade.
Evolução da hepatite B crônica
De 15 a 30% das pessoas com hepatite B crônica desenvolverão complicações associadas à doença que podem ser:
- Carcinoma Hepatocelular ( Câncer do fígado)
- Cirrose hepática
- Complicações extra-hepáticas
Avaliação do paciente com Hepatite B
Exames gerais de sangue
Testes que avaliam:
- Rim
- Fígado
- Tireoide
- Glicemia e diagnóstico de diabetes mellitus
- Alterações do colesterol
- Rastreio de neoplasias
- Níveis de vitamina D
- Identificação de doenças associadas como HIV, Sífilis ou outras ISTs
- Testes de gravidez (os esquemas de tratamento não são testados em gestantes)
- Identificação de suscetibilidade a outras infecções do fígado preveníveis por vacinas (hepatite A e B)
Endoscopia Digestiva
Ajudam a identificar varizes esofagianas – sinais de hipertensão do sistema portal
Densitometria óssea
Especialmente em pacientes em tratamento com Tenofovir.
Ultrassonografias, Tomografias ou Ressonâncias Magnéticas
Ajudam a identificar:
- Alterações agudas do fígado (como inchaço do órgão)
- Alterações crônicas do fígado (como sinais sugestivos de cirrose)
- Presença de lesões sugestivas de abscesso, câncer, entre outros.
Exames de urina
- Identificam lesões agudas do rim e outros problemas como descompensação da diabetes.
Biópsia hepática
Este exame determina o grau de inflamação e fibrose do fígado (cicatrização do fígado), além de descartar outros problemas associados, como câncer.
Ele é feito coletando-se um pedaço do fígado através de uma agulha guiada por ultrassonografia ou outro exame de imagem.
Elastografia
A elastografia hepática possui níveis de sensibilidade e especificidade significativas, com a vantagem de ser indolor e não invasiva
Além disso, é uma boa opção para pessoas que não podem realizar a biopsia, como aquelas com plaquetas baixas.
O maior problema desse exame é ser examinador dependente.
Tratamento da hepatite B
O tratamanento da hepatite B é muito diferente daquele feito na Hepatite C
A resposta ao tratamento é ótima, cerca de 95% das pessoas já alcançam a supressão viral com o primeiro esquema.
Quem deve tomar remédios para tratar a hepatite B?
- Pessoas com Carga viral para a hepatite B detectável no sangue
- Qualquer HBeAg + PCR-HBV > 2.000 UI/ml + Qualquer valor de ALT acima do nível normal + qualquer sinal de necro-inflamação do fígado
- Todos os pacientes com cirrose compensada ou não
- PCR-HBV > 20.000 + ALT > 2 vezes o limite superior
- HBeAg (+) + 30 anos de idade
- História familiar de câncer no fígado
- Pessoas com manifestações extra hepáticas da doença
Opções de tratamento:
- AlfaPegInferferona
- Tenofovir
- Entecavir
Carcinoma hepatocelular
Fatores que aumento o risco de evolução para câncer do fígado:
- Presença de cirrose
- Esteatose hepática (Fígado gorduroso)
- Extremos de idade
- Coinfecção com Hepatite C
- Coinfecção com HIV
- Subtipos do vírus da hepatite B
- Etilismo
- Tabagismo
Cirrose hepática
Cerca de 20% das pessoas com hepatite C crônica chegam à fase de cirrose hepática em 20 a 30 anos de infecção.
O fígado possui uma grande capacidade de regeneração quando machucado.
A cirrose ocorre quando a agressão aos hepatócitos (células do fígado) é muito intensa ou por um longo período ao ponto de superar sua capacidade de regeneração.
A degeneração dos hepatócitos altera a arquitetura do fígado, prejudicando a irrigação sanguínea e a síntese de proteína, levando a uma cicatrização do órgão.
Essas cicatrizes são compostas por fibras, a chamada fibrose hepática.
A pessoa pode permanecer sem sintomas por muitos anos até começar a apresentar sintomas das complicações da hepatite.
Por outro lado, uma pessoa pode ter cirrose hepática sem apresentar nenhum sinal ou sintoma (cirrose hepática compensada)
Sintomas de cirrose hepática
- Icterícia
- Prurido
- Eritema palmar (palmas das mãos avermelhadas)
- Sangramento digestivo alto
- Melena (saída de sangue digerido pelas fezes)
- Enterorragia (saída de sangue vivo pelas fezes)
- Perda de massa muscular
- Ascite (liquido abdominal)
- Anasarca (inchaço generalizado) / Edema (inchaço localizado)
- Derrame pleural (liquido no pulmão)
- Encefalopatia hepática (delirium) – quadro grave e rápido de alteração da consciência
- Falência do rim
- Aumento das mamas (ginecomastia)
- Atrofia (redução do tamanho) dos testículos
- Varizes em cabeça de medusa
Dieta do paciente cirrótico:
Pessoas com cirrose descompensada, como aqueles que já apresentaram sangramento digestivo, devem ter cuidados especiais com a dieta:
- Diminuição da ingesta de sódio (sal) – até 1,5 g /dia
- Dieta rica em carne branca (peixe, peru, frango)
- Restrição de líquidos (alguns casos, apenas 1,5 litro/dia)
O que deve ser considerado para a realizar a orientação dietética no paciente cirrótico:
- Gravidade de doença
- Presença de doença descompensada (água na barriga, água no pulmão, sangramento do intestino, confusão mental, etc)
- Níveis de sódio no sangue
- Níveis de proteína no sangue
- Funcionamento do rim
Fatores que aceleram a progressão para cirrose hepática:
- Idade superior a 40 anos no momento da infecção
- Sexo masculino
- Etilismo
- Outras infecções associadas como hepatite B ou HIV
- Outras comorbidades associadas como imunossupressão; esteatose hepática; resistência à insulina
Transplante hepático
A cirrose hepática em si, não tem tratamento específico. Existe apenas controle dos sintomas.
O tratamento do vírus da hepatite B no paciente com cirrose evita piora do quadro mas não diminui os sintomas.
O tratamento do vírus, quando ele ainda está circulando no sangue, melhora as condições do fígado e os sintomas podem melhorar.
Contudo, um fígado já em cirrose não volta ao normal naturalmente apenas com a cura da hepatite.
Ou seja, o paciente melhora dos sintomas, mas não deixa de ter a indicação do transplante.
O tratamento da hepatite B no paciente que já está na fila do transplante pode assim acabar causando transtornos ao paciente, pois não resolve o seu problema, mas atrasa o transplante, uma vez que as condições podem melhorar.
É por isso que a indicação atual do tratamento da hepatite B em pacientes em fila para trasplante, é aguardar o transplante do fígado, para depois tratar a hepatite.
Acompanhamento médico pós tratamento
Pessoas com lesões no fígado devido a hepatite B, possuem o risco de desenvolver câncer do fígado diminuído após a eliminação do vírus, mas ainda assim, permanecem com um risco maior dessa complicação que pessoas que nunca tiveram o vírus.
Sendo assim, o acompanhamento médico com o infectologista e/ou hepatologista deve ser realizado periodicamente mesmo após a eliminação do vírus.
Prevenção da hepatite B
- Uso de preservativo nas relações sexuais
- Diagnóstico precoce
- Realização de sorologia em gestantes para definição de contato.
- Vacinar gestantes suscetíveis
- Tratamento das gestantes com altos níveis de vírus no sangue
- Vacinação contra a hepatite B
Fonte:
- Guidelines on hepatitis B by the European Association for the Study of the Liver
- Hepatitis B
- PCDT – Manejo de Hepatite B e coinfecções – MS/ 2017
Olá Dra. Tive uma exposição de risco e realizei o exame de hepatite B HBs Ag 6 meses depois da exposição. O exame deu negativo. Posso encerrar o caso ou devo fazer outros tipos de exame, como o de anti corpos e outros pra ter a certeza?
Provavelmente não teve infecção mas para descartar o contato, o exame a ser realizado é o anti HBc .
Boa noite , tenho hepatite 6 anos faço acompanhamento e tudo , porém a medica não me passa nenhum remédio e nem um tratamento ,ela falou que minha hepatite é crônica , gostaria de saber se é realmente crônica pois aqui nas postagens li que se o vírus for mais de 6 meses já é crônica hbsag positivo , anti Hbc total positivo , e anti Hbc IgM negativo , não entendo o porque eu não tomo nenhum remédio pois eu preciso tomar já que é crônica .
Infecção com mais de 6 meses é crônica, mas existem vários critérios para avaliar a indicação do tratamento na hepatite B. se o vírus não estiver ativo, pode-se optar por não realizar o tratamento.
bom dia, tudo bem?Gostaria de tirar uma dúvida com a Sra, realizei uma doação de sangue, e recebi um comunicado que havia tido um problema na amostra. Realizei nova coleta e novo exame, dai me comunicaram que havia um resquício de hepatite B, realizei um novo exame, o qual segue os resultados:
Anticorpos Anti HBc Total : Inconclusivo – valor de referência : não reagente, Anticorpos Anti – HBE : Não reagente – valor de referência : não reagente
HBS, An
Bom dia. O anti-HBc é um anticorpo específico contra o vírus da Hepatite B, e sua presença indica apenas que a pessoa teve contato com o vírus, podendo ser uma infecção passada ou atual. Você precisa procurar um médico infectologista de sua confiança para te examinar pessoalmente e solicitar os exames necessários para uma correta análise do seu caso.