
Tabagismo e HIV: Estratégias para Reduzir Danos e Melhorar o Prognóstico
Publicado: 10/06/2025
Publicado: 10/06/2025
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Tabagismo e HIV. Com o passar dos anos, o avanço da Medicina fez com que o diagnóstico de HIV deixasse de ser uma sentença de morte para se tornar uma condição crônica controlável. No entanto, fatores como o tabagismo continuam sendo ameaças sérias à saúde de quem vive com o vírus no organismo, já que fumar aumenta consideravelmente o risco de doenças cardiovasculares, respiratórias e câncer, riscos que já são elevados na população com HIV.
Continue a leitura deste artigo e entenda melhor os impactos do cigarro sobre o sistema imunológico, o que dizem os estudos mais recentes e quais estratégias podem ser adotadas para reduzir danos e melhorar o prognóstico a longo prazo.
Conhecido popularmente como HIV, o vírus da imunodeficiência humana é uma infecção viral que ataca diretamente o sistema imunológico, especialmente as células de defesa chamadas linfócitos T CD4 +.
Com o tempo, se não tratado, o HIV compromete a capacidade do corpo de combater infecções e outras doenças, chegando à fase AIDS.
O HIV é transmitido por meio do contato com fluidos corporais contaminados, como o sangue, esperma, as secreções vaginais e o leite materno. As principais formas de transmissão do vírus HIV são por meio de relações sexuais desprotegidas, compartilhamento de seringas, agulhas ou outros objetos cortantes, transfusões de sangue contaminado (raro, atualmente, devido ao controle rigoroso nos bancos de sangue) e transmissão vertical, passado de mãe para filho durante a gestação, o parto ou a amamentação.
Nos estágios iniciais, muitas pessoas com HIV não apresentam sintomas. Quando ocorrem, eles podem incluir:
Sem tratamento, a infecção evolui para AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), estágio em que o sistema imunológico está gravemente comprometido e o risco de doenças oportunistas aumenta.
A boa notícia é que, com o diagnóstico precoce e o uso contínuo de medicamentos antirretrovirais é possível controlar o HIV, impedir sua progressão e ter uma vida longa e saudável, desde que sejam mantidos hábitos de vida saudáveis, como a cessação do tabagismo.
Os cigarros, em geral, contêm milhares de substâncias tóxicas que afetam todos os sistemas presentes no nosso corpo. Em pessoas vivendo com HIV, os efeitos são potencializados devido à combinação de fatores inflamatórios, imunológicos e metabólicos.
Segundo dados da OMS, pessoas com HIV que fumam têm um risco de morte duas vezes maior do que aquelas que não fumam.
Embora o tabaco não interfira diretamente na absorção dos medicamentos antirretrovirais, agrava as condições inflamatórias crônicas que estão acontecendo no organismo e aumenta o risco de comorbidades que podem impactar o tratamento. Pacientes fumantes podem ter:
Ou seja, mesmo com a carga viral indetectável, o tabagismo pode reduzir a qualidade de vida e aumentar as chances de complicações sérias.
Parar de fumar traz benefícios quase que imediatos para qualquer pessoa, mas em quem vive com o vírus HIV, os ganhos para a saúde são ainda mais significativos.
Existem 3 fatores que sustentam o tabagismo:
Em diferentes pessoas estes 3 fatores possuem diferentes pesos e várias das estratégias de combate ao cigarro atacam diferentes fatores com diferentes abordagens.
Para aumentar as chances de êxito, o ideal é somar diferentes estratégias que se completam entre si.
Existem várias abordagens terapêuticas psicológicas que podem ajudar os pacientes das mais diversas formas, dependendo da personalidade e demanda de cada um existem abordagens que trarão mais benefícios que outras:
É umas das mais usadas no tratamento contra o tabagismo. Nela o paciente busca reconhecer momentos da rotina, situações sociais, alimentos, emoções, pensamentos e até mesmo pessoas que funcionam como um gatilho do desejo de fumar.
Elabora estratégias práticas para evitar o gatilho, desenvolve habilidades para enfrentar a fissura (forte desejo de fumar) e os sintomas de abstinência (efeitos que ocorrem tempos após a interrupção do uso do cigarro como a irritabilidade, ansiedade, dificuldade de concentração). Exemplos de habilidades de enfrentamento dessas situações podem ser técnicas de relaxamento, respiração profunda, atividades para mudança de foco ou resolução de problemas
Modificar pensamentos, raciocínios ou mesmo desculpas que usamos para seguir com a rotina do cigarro por outras medidas mais saudáveis, por exemplo: Preciso fumar para me acalmar, para não engordar, para pensar melhor, para conversar com meus colegas de trabalho, etc.
O foco principal dessa abordagem é aumentar a motivação pessoal para parar de fumar. O terapeuta ajuda o paciente a identificar discrepâncias entre o comportamento atual e os objetivos de vida. Reconhece e pondera os prazeres de fumar e todo o mal que pode vir junto. Busca motivos pessoais fortes para parar de fumar que servem como motor propulsor para concretizar seus objetivos.
Reunir pessoas que estão passando pela mesma situação pode é um recurso poderoso. o a descoberta de não estar sozinho, o sentimento de pertencimento ajuda pessoas a superar limitações e encontrar caminhos para seguir em frente. Compartilhar histórias de sucesso e desafios pode fornecer novas perspectivas e ideias para lidar com o tabagismo.
O hipnoterapeuta leva a mente do paciente a um estado de relaxamento profundo e foco, chamado hipnose. Nesse estado, a mente se torna mais receptiva ajudando o paciente a reconhecer gatilhos, mudar a forma como percebe o cigarro, gerenciar melhor tanto sintomas que geram gatilhos como a ansiedade quanto os causados pela falta do cigarro como ansiedade e irritabilidade. Além disso, ajuda o paciente a buscar novos estímulos com associações positivas em substituição ao hábito do tabagismo.
Adesivos, gomas ou sprays de nicotina podem ser úteis para reduzir os sintomas de abstinência relacionados à falta física da nicotina;
Os fármacos na luta contra o tabagismo podem ter indicações muito distintas e que inclusive mudam de acordo com o momento do tratamento em que a pessoa se encontra.
Existem fármacos que auxiliam no controle dos sintomas da abstinência, outros que auxiliam na compulsão ou vontade de consumir aquele cigarro, e outro grupo de fármacos ainda que tratam doenças neuropsiquiátricas que levam ao vício do cigarro como a ansiedade por exemplo.
O pleno tratamento da parte psiquiátrica que leva ao tabagismo por exemplo, é tão importante que além de aumentar de forma importante os níveis de êxito, também evitam a substituição de vícios como o aumento da ingesta de carboidratos ou outros alimentos de forma compulsiva ou por ansiedade levando ao muito comum aumento de peso.
É muito importante individualizar a escolha terapêutica e definir o momento do tratamento em que estamos porque, por exemplo, o uso da bupropiona muito usado para tratamento da compulsão, sem um medicamento adequado para a ansiedade, pode levar a um aumento da ansiedade, o que acaba por perpetuar o vício.
Muitas pessoas, especialmente sem acompanhamento profissional, buscam no cigarro eletrônico uma solução mais simples, ou um vício menos agressivo para a saúde.
Mas o cigarro eletrônico não pode ser considerado uma estratégia para parar de fumar e menos ainda uma solução.
1º muitos cigarros eletrônicos contêm nicotina, mantendo a pessoa dependente do vicio.
2º Mantém toda a rotina de gatilhos e respostas inalteradas o que faz com que seja muito mais fácil voltar ao cigarro, mesmo que o eletrônico não tenha nicotina,
3º o cigarro eletrônico contém outras substâncias químicas potencialmente prejudiciais, como metais pesados, aromatizantes e partículas ultrafinas que podem causar danos pulmonares e cardiovasculares.
Não existe estratégia que milagrosamente faça com que a pessoa acorde num belo dia e não queira mais fumar como se nunca tivesse fumado na vida.
Todo processo começa com a decisão de parar e que deve ser tomado novamente todos os dias. com o tempo vai ficando mais fácil mas não existe ex-tabagista. Qualquer vício fica adormecido e precisa ser sempre vigiado para não retornar, especialmente as condições que levaram ao início e manutenção do vício num primeiro momento.
No entanto, você não precisa parar de fumar na raça e sem nenhum auxílio.
Médicos e outros profissionais de saúde têm papel crucial na orientação e no suporte ao paciente. Algumas medidas essenciais incluem:
A relação entre tabagismo e HIV é séria e exige atenção. Embora o tratamento antirretroviral tenha transformado o prognóstico do HIV, o cigarro ainda representa uma das principais causas de morte evitável entre pessoas que vivem com o vírus.
A interrupção do tabagismo deve ser considerada parte fundamental da linha de cuidado do HIV, assim como a adesão ao tratamento antirretroviral e o acompanhamento das comorbidades. Se você vive com HIV e fuma, converse com seu médico infectologista de confiança.