IST's - Infecções Sexualmente Transmissíveis

Como Fazer o Diagnóstico da Sífilis?

Causada pela bactéria Treponema pallidum, a sífilis é uma infecção sexualmente transmissível que pode evoluir para diferentes estágios clínicos quando não diagnosticada e tratada adequadamente. O diagnóstico da sífilis é essencial para prevenir suas complicações graves, como lesões neurológicas, cardiovasculares e até a morte, além de ajudar a evitar a transmissão para outras pessoas. Continue a leitura deste artigo e saiba mais sobre como fazer o diagnóstico da sífilis.

A Sífilis

Como dito anteriormente, a sífilis é uma IST que pode se manifestar em diferentes estágios, cada um com seus próprios sintomas, e se não for tratada adequadamente, pode causar complicações graves ao longo do tempo.

Sua transmissão é feita, principalmente, por meio de contato sexual, incluindo vaginal, anal e oral, com uma pessoa infectada. Mas também pode ser transmitida de mãe para filho durante a gestação, o que é chamado de sífilis congênita.

Estágios da Doença

Existem 4 estágios principais da sífilis que pode acometer pacientes tanto do sexo feminino quanto do sexo masculino, sendo eles:

  • Sífilis Primária: Aparece, geralmente, de 10 a 90 dias após a exposição ao Treponema pallidum. O sinal clínico clássico é o cancro duro, uma lesão ulcerada indolor que surge no local de entrada da bactéria, como a região genital, anal ou oral. A linfadenopatia regional (inchaço dos linfonodos) também pode estar presente;
  • Sífilis Secundária: Se não tratada, a infecção evolui para essa fase entre 6 semanas e 6 meses após o desaparecimento do cancro. Nessa fase, podem surgir erupções cutâneas disseminadas, que não causam coceira, além de sintomas inespecíficos como febre, mal-estar e dor de cabeça. Lesões mucocutâneas (manchas na boca, genitais ou ânus) são comuns;
  • Sífilis Latente: Neste estágio, a doença não apresenta sintomas visíveis, mas o paciente continua infectado. A sífilis latente pode ser dividida em recente (menos de um ano) ou tardia (mais de um ano), e essa diferenciação é importante para guiar o tratamento e o acompanhamento;
  • Sífilis Terciária: Ocorre anos após a infecção inicial, se a doença não for tratada. Pode afetar diversos órgãos, incluindo o sistema nervoso central (neurosífilis), sistema cardiovascular e pele. As manifestações graves incluem demência, paralisia e aneurismas.

Apesar da importância da avaliação clínica, o diagnóstico definitivo da sífilis depende de exames laboratoriais, uma vez que muitas das manifestações da doença podem ser confundidas com outras condições.

Como Fazer o Diagnóstico de Sífilis

Após uma avaliação clínica, o médico responsável pelo seu atendimento poderá solicitar alguns testes para a validação ou exclusão da possibilidade de uma infecção por sífilis. Os testes laboratoriais para o diagnóstico dessa condição são divididos em dois tipos, sendo eles:

  • Testes diretos;
  • Testes imunológicos.

O primeiro consiste em exames que detectam o Treponema pallidum (bactéria causadora da sífilis) diretamente na lesão, seja ela uma úlcera (sífilis primária) ou lesão de pele (sífilis secundária). São exemplos de testes diretos: exame em campo escuro, pesquisa direta com material corado.

Já o teste imunológico detecta anticorpos que o nosso organismo produz ao entrar em contato com T. pallidum. Embora o tempo para o seu surgimento varie de pessoa a pessoa, geralmente eles já podem ser detectados no sangue 10 dias após o aparecimento da úlcera sifilítica.

Tipos de Teste Imunológico

Os testes laboratoriais para o diagnóstico da sífilis são divididos em duas categorias principais: testes treponêmicos e não treponêmicos. Cada um deles tem um papel importante para o diagnóstico, controle de cura e a avaliação de reinfecção, como veremos a seguir.

Testes Não Treponêmicos

Os testes não treponêmicos mais usados são:

  • RPR (do inglês, Rapid Test Reagin);
  • TRUST (do inglês, Toluidine Red Unheated Serum Test) – este pouco encontrado no Brasil.

O resultado positivo quantitativo é dado por meio de titulações que significam diluições (1:2, 1:4, 1:8, 1:16, 1:32 etc).

Não se pode inferir o tempo de infecção nem gravidade de doenças por essas titulações. Esses testes são ótimos para rastreio e devem ser os primeiros a serem solicitados.

Eles são muito sensíveis, mas por não serem específicos, seu resultado positivo pode ser um falso positivo e, por isso, deve ser sempre realizado um teste treponêmico específico confirmatório. Ele também é o teste indicado para controle de cura e avaliação de reinfecção.

Testes Treponêmicos

Detectam anticorpos específicos contra componentes celulares do Treponema, eles são os primeiros a ficarem positivos após a primeira infecção, cerca de 7 a 10 dias após a úlcera sifilítica.

Os testes treponêmicos mais usados são:

  • FTA-abs (Teste de anticorpos treponêmicos fluorescentes com absorção);
  • ELISA (Ensaio imunossorvente ligado à enzima), teste de quimioluminescência;
  • Testes de hemaglutinação e aglutinação;
  • Testes rápidos etc.

Eles são usados para a confirmação diagnóstica quando o teste não treponêmico dá positivo, mas não servem para controle de tratamento nem para o diagnóstico de uma reinfecção, pois uma vez positivo, geralmente não voltam a ficar negativos, mesmo que a pessoa esteja curada.

Controle de Cura Pós-Tratamento

Várias pessoas curadas podem chegar a ficar com os testes não treponêmicos negativos. Já a negativação dos testes treponêmicos é bem rara.

Contudo, a maioria das pessoas ficam com uma cicatriz ou memória sorológica (testes não treponêmicos positivos com baixas titulações) e isso deve ser monitorado para se confirmar a cura, para saber definir uma reinfecção caso haja uma reexposição e para confirmar falha terapêutica. O teste de controle deve ser realizado idealmente apenas 3 meses após o término do tratamento.

É indicação de sucesso de tratamento a ocorrência de diminuição dos títulos em torno de duas diluições em três meses e três diluições em seis meses após a conclusão do tratamento. Por exemplo, quando o título da amostra era de 1:64 e cai para 1:16 no exame de controle pós-tratamento.

A persistência de resultados reagentes com títulos baixos (1:1 – 1:4) durante um ano após o tratamento, quando descartada nova exposição durante o período analisado, indica sucesso do tratamento (cicatriz sorológica).

Como Tratar a Sífilis

O tratamento da sífilis é altamente eficaz, especialmente quando diagnosticada precocemente, e, geralmente, envolve o uso de antibióticos, como, por exemplo, a penicilina sendo a medicação de escolha. Esse medicamento é capaz de eliminar a bactéria causadora da condição em todos os estágios da doença.

O tratamento adequado evita a progressão da doença, suas complicações graves e a transmissão para outras pessoas. Confira, a seguir, como é a terapia para cada estágio da sífilis:

Sífilis Primária e Secundária

  • O tratamento padrão é uma injeção única de penicilina benzatina;
  • Se o paciente for alérgico à penicilina, podem ser utilizados outros antibióticos, como doxiciclina ou tetraciclina, embora a penicilina seja o tratamento preferido.

Sífilis Latente Precoce (menos de um ano de infecção)

O tratamento também é feito com uma dose única de penicilina benzatina.

Sífilis Latente Tardia ou Sífilis de Duração Desconhecida

Nesses casos, o tratamento é mais prolongado e consiste em três doses de penicilina benzatina aplicadas em intervalos semanais

Sífilis Terciária

O tratamento envolve três doses de penicilina benzatina, aplicadas semanalmente. No caso de comprometimento neurológico (neurosífilis), o tratamento é feito com penicilina cristalina, administrada por via intravenosa, várias vezes ao dia, durante 10 a 14 dias.

Sífilis Congênita

Bebês com sífilis congênita (transmitida da mãe durante a gestação) devem ser tratados com penicilina cristalina ou penicilina procaína por via intravenosa ou intramuscular, dependendo da gravidade da infecção, por um período de 10 a 14 dias;
O pré-natal adequado, com testes para sífilis durante a gestação e tratamento oportuno das gestantes infectadas, é essencial para prevenir a sífilis congênita.

Falhas do Tratamento

Existem casos onde pode haver algum tipo de falha durante o tratamento e as principais causas para que isso ocorra são:

Erro no Tratamento

O tratamento de primeira escolha para a sífilis é a Penicilina Benzatina. O erro no tratamento pode ocorrer por várias razões:

  • Má adesão do paciente (não pode haver mais do que 2 semanas de diferença entre as doses);
  • Erro na escolha do esquema (o esquema preferencial é a Penicilina Benzatina);
  • Erro de dose (a dose deve ser SEMPRE 2 frascos de Penicilina Benzatina, uma em cada nádega);
  • Erro no número de doses (o número da dose depende da fase da doença).

Neurossífilis

O Treponema pallidum resistente à Penicilina é muito raro. Contudo, a Penicilina Benzatina, que é primeira escolha para o tratamento, não penetra no sistema nervoso central.

Por isso, quando há falha terapêutica, deve-se descartar a presença de Sífilis no Sistema Nervoso Central (neurossífilis), por meio do exame de Líquor.

Reinfecção

Como a sífilis não confere imunidade, quando uma pessoa já curada volta a entrar em contato com o treponema, ela pode se infectar novamente. Pensamos em reinfecção quando:

  • Há uma história de nova exposição em um paciente previamente tratado;
  • Seus exames apresentaram um aumento do título dos testes não treponêmicos em duas ou mais diluições, quando comparado aos resultados anteriores.

Por exemplo, o título de 1:4 estabilizado pós-tratamento sobe para 1:16 no exame de controle.

Para conhecer mais sobre a sífilis, seus diversos tipos, meios de identificação, seu tratamento e a prevenção da condição, não deixe de navegar pelo nosso blog e marcar uma consulta com seu médico infectologista de confiança.

Assista ao vídeo e saiba mais:

Fontes:

Artigo Publicado em: 22 de jul de 2019 e Atualizado em: 26 de nov de 2024

Artigo atualizado em 26/11/2024 20:22

Ver comentários

  • Ano passado fiz o exame de sangue e deu positivo pra sifilis 1,64, meu marido não fez exame de sangue mas fez o tratamento também, e depois não fiz outro exame para saber se baixou. Depois de 8 meses fiz os exames o meu deu positivo novamente pra siflis deu 1.16 e o dele deu negativo, estamos juntos a 3 anos e não tive outro parceiro, nem o médico sabia me explicar o porque sendo que eu não tive outro parceiro. Oque pode ter acontecido?

  • Ótimo texto, dra Keila. Eu já fiz vdrl de rotina algumas vezes, e todos negativos. Este ano acusou reagente 1:1, mas não tive exposição de risco de uns anos pra cá (risco baixo há uns anos atrás). Seria possível eu ter contraído há 10 ou 20 anos e todos os exames terem sido negativo? Já realizei o FTA e aguardado o resultado, mas estou muito desesperada. Me ajuda, por favor. Obrigada!

  • Boa noite, estou com uma pequena ferida no penis que apareceu a uns 5 dias sendo que fiz sexo sem camisinha faz uma semana, como estava com a guia para os exames de DST eu fiz com uma semana do possivel contagio e deu negativo, Devo esperar mais um pouco ou ja teria dado tempo do exame sair positivo?

    • Deve esperar até pelo menos 30 dias após a exposição de risco para poder fazer o exame de teste treponêmico.

  • Boa noite doutora a benzetacil tomada com menos de 10 dias apos o cancro irá fazer com que ate o fta abs negative?

    • geralmente o FTA-abs não negativa, mas o VDRL ou RPR pode sim ficar negativo.

  • Olá doutora. Meu filho apareceu uma ferida unica indolor no pênis foi ao urologista no 4 dia .ele receitou benzetacil e passou o vdrl que foi feito com 6 dias do aparecimento da úlcera. A medicação tomada antes de 7 dias interferem nos testes dos resultados dos testes antitreponemicos e dos treponemicos também? Porq queríamos ter a certeza se foi a doença ou não.

    • não interfere. mas caso dê negativo, deve-se repetir os exames por causa do tempo de janela imunológica,. mas de todo jeito se for mesmo sífilis o teste treponêmico ficará positivo

  • Ja tratei a sifilis e por 2 anos o teste RPR deu não reagente e este ano para RPR reagente 1/1, significa q estou reinfectada?

  • Dr tive uma relacao sexo oral com uma pessoa q tem sífilis, apos 62 dias meu exame VDLR deu reagente 1/2. Nesse caso estou infectado?

    • pode ser falso positivo, infecção recente ou infecção previa já curada. depende do seu exame confirmatório e de seu histórico.

  • Olá dr. Minha titulação do VDRL deu 1/8 fiz o tratamento com 6 Benzetacil penicilina durante 3 semanas após 3 meses repetir o tratamento é deu novamente a titulação 1/8 oque pode ter acontecido ?.

    • A resposta para a sua pergunta está no próprio texto desse artigo

  • Descobri 9/2018 a gravidez e a siflis, fiz os exames 1:64 , realizei o tratamento caiu para 1:32, fui reinfectada para1:64 ,novamente fiz o tratamento caiu 1:32, fiz tratamento caiu 1:16, infelizmente o bebê foi a obto, realizei novamente o tratamento e continua 1:16 fiz todos exames solicitados com fts ABS , desde os últimos tratamento não tenho relação desprotegida. Qual seria o tempo necessário para caiu o valor. O meu último tratamento foi em 06/2019?

    • NO corpo do texto está escrito os critérios e o tempo para controle de cura e o como proceder quando asa titulações não caem o esperado.

  • Dr. Fiz os segyintes exames e tive os resultados:
    Anticorpos totais específicos Anti-T.pallidum : reagente; CMIA: não reagente; VDRL:nao reagente FTA-ABS IgG : reagente e F5A-ABS IgM: não reagente. Nunca percebi que tive sífilis, nunca fiz tratamento, e estou grávida de 4 meses. O que tudo isso significa e como proceder? Consigo transmitir a doença?

    • contato prévio com a sífilis. não há como transmitir a infecção

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Publicador por
Dra. Keilla Freitas

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